Poderia uma espaçonave interplanetária ser alimentada unicamente por água?
A resposta é sim, segundo dois pesquisadores da área.
Brian McConnell e Alex Tolley defenderam a ideia da criação da nave, que eles batizaram de "carruagem espacial", em um artigo publicado no jornal da Sociedade Interplanetária Britânica.
Carruagem espacial
Segundo os pesquisadores, uma viagem a Marte em uma nave alimentada a água custaria o equivalente a um único lançamento de um ônibus espacial até a Estação Espacial Internacional.
Ao contrário dos ônibus espaciais, a carruagem espacial seria uma nave estritamente espacial, dispensando as especificações necessárias ao pouso, o que poderia ser feito por naves auxiliares projetadas especificamente para isso.
Esta ideia também foi defendida pela NASA na semana passada, quando a agência espacial apresentou um novo conceito de nave espacial para voos de longa duração.
A carruagem espacial também aproveitaria o conceito de módulos infláveis, defendidos por Robert Bigelow para a construção do seu hotel espacial.
E, segundo os pesquisadores, sua nave espacial não depende de nenhuma inovação tecnológica futura: "É realmente um projeto de integração de sistemas. A tecnologia fundamental está toda disponível," disse McConnell.
Nave movida a água
O que mais chama a atenção na carruagem espacial, contudo, é o seu combustível, exclusivamente água.
O motor da espaçonave "queimaria" a água no interior de motores eletrotermais acionados por micro-ondas.
Motores eletrotermais são um tipo de sistema de propulsão elétrica, a exemplo dos motores iônicos e do motor vasimir.
Eles já foram testados em laboratório usando a água como propelente. Segundo os pesquisadores, esses motores "provaram ser várias vezes mais eficientes no consumo de combustível do que os foguetes químicos convencionais".
Esses motores superaquecem a água no interior de uma câmara. O vapor resultante é ejetado por um bocal semelhante aos bocais dos foguetes comuns, fornecendo o impulso à nave.
Motores eletrotermais
A energia elétrica para os motores, assim como para toda a nave, seria fornecida por grandes painéis solares, o que levou a um design "chapado" da nave para ampliar a área disponível tanto para o armazenamento da água quanto para a instalação dos painéis solares.
Os motores eletrotermais a água fornecem pouco empuxo em relação aos motores químicos, mas, como poderiam funcionar por muito mais tempo, propiciaram uma aceleração contínua à nave, permitindo que as missões fossem feitas nos tempos previstos atualmente - uma viagem a Marte levaria cerca de seis meses.
Para dar maior agilidade e capacidade de manobra, principalmente em situações de emergência, a nave teria pequenos motores químicos, similares aos usados em satélites e sondas espaciais.
"A capacidade de usar a água como propelente altera radicalmente a economia das missões de longo alcance, reduzindo o custo de uma missão em até 100 vezes, tornando as missões ao espaço profundo comparáveis em termos de custos às atuais missões tripuladas à órbita baixa da Terra," dizem os pesquisadores, referindo-se aos ônibus espaciais norte-americanos.
Escudos de água
A água teria outras utilidades além de servir como combustível e, na verdade, condiciona todo o projeto da nave.
Os módulos infláveis teriam camadas externas cheias de água, que serviria como um escudo contra a radiação do espaço.
A água também poderia ser incorporada nas próprias paredes dos módulos infláveis, congelando em contato com o frio do espaço e funcionando como um escudo rígido contra os micrometeoritos e outros detritos que possam se chocar com a nave durante a viagem.
A grande disponibilidade de água também possibilitará o cultivo de plantas para alimentação e, coisa inédita no espaço, permitirá até mesmo que os astronautas tomem banho de banheira.
Os pesquisadores defendem a utilização de uma frota dessas carruagens espaciais viajando pelo Sistema Solar, reabastecendo-se de água na órbita baixa da Terra ou de água "minerada" na Lua ou mesmo em Marte.
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