domingo, 15 de maio de 2011

O melancólico fim das TVs Philips



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Depois de vários meses seguidos de perdas, esta semana a Philips anunciou que vendeu 70% de sua divisão de TVs para a chinesa TPV, grupo conhecido no Brasil por fabricar os monitores e TVs AOC. Você pode pensar “ok, é mais um fabricante indo embora. Nunca gostei muito do ambilight mesmo!”, mas a saída da empresa holandesa, que colocou sua primeira TV no mercado em 1928, além de ser um pouco triste, é reveladora sobre como o mercado de produtos de vídeo funciona hoje.

Pelo acordo, a nova joint-venture pode explorar o uso da marca Philips por pelo menos 5 anos. Em outras palavras, veremos TVs AOC “vestidas” de Philips nas lojas. Isso não chega a ser algo bizarro: você pode comprar uma TV da Sony hoje que tem a tela da LG, por exemplo, ou uma Sharp que tem o software fornecida pela Philips. O mercado de TVs hoje tem bem menos variedade do que as pessoas imaginam. Como há poucos fabricantes e detentores de patentes de componentes críticos (em especial a tela), é muito difícil a diferenciação. Mas algumas empresas fazem mais esforço que outras.

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Eu conheci alguns engenheiros da Philips em viagens recentes à Europa, na IFA e em Barcelona (por convite da Philips, registre-se). E sempre me impressionei com uma certa paixão por inovação em alguns detalhes. Enquanto as coreanas lutam para vender o “LED mais fino” e “maior contraste”, agredindo os olhos com brilhos exagerados, a Philips experimentava uma TV com proporção única, para cinéfilos, e com uma tela mais grossa e pesada, com “local dimming”, ou insistia no Ambilight, que sempre fui cético, mas que depois de testar por mais tempo achei inexplicavelmente efetiva. Outras pequenas inovações na linha de TV me cativaram, como as novas bases, que ao mesmo tempo são articuláveis para virar o suporte que se prega na parede (o que economiza uns R$ 200 na instalação e elimina lixo), e trazem as caixas de som, para manter o painel relativamente fino, sem perder espacialidade no áudio.

Tem mais. Poderia incluir na lista de boas sacadas um modelo de TV com controle remoto recarregável por energia solar ou o 3D que vira 2D compartilhado – sem falar no protótipo de 3D sem óculos mais impressionante que já vi. São várias pequenas coisas que me fazem ter um certo carinho especial pelas TVs Philips e ficar meio triste com a notícia do seu fim. Em última instância, a Philips lutou para trazer algo de efetivamente diferente para as TVs. Hoje, das fabricantes no Brasil, vejo apenas talvez a Sony e Panasonic investirem para empurrar a indústria adiante. Não é que as líderes Samsung e LG não façam boas TVs – elas têm alguns dos melhores modelos! Mas sinto falta de mais inovação no campo.

E o principal motivo apontado pelos executivos da Philips para sair do mercado foi justamente a “competição quase desleal das coreanas”. Dominando boa parte da cadeia produtiva e puxando os preços para baixo, os concorrentes como a agora parceira AOC deixam a vida das antigas gigantes mais difícil. Bom para o consumidor hoje, no curto prazo, porque a pressão para o preço baixo é imensa. Mas será que essa busca louca e desenfreada pela redução de custos não pode comprometer a qualidade ou investimento em pesquisas? Depois de anos de inovações consecutivas, parece que as telas estão mais ou menos iguais hoje. Veja que a melhor TV 3D hoje, por exemplo, foi lançada há mais de um ano (falo da Panasonic VT20B), um período de tempo bizarramente longo para a nossa indústria hoje.

Mas divago. A derrota da Philips pode ter se originada simplesmente por má gestão, e o cenário de inovação menos acelerada seja momentâneo. Mas que foi uma notícia melancólica para quem gosta de TV, isso foi.

Como alguns leitores notaram, houve um excesso de simplificação no artigo. O anúncio da Philips, ao pé da letra, foi a “formação de uma joint-venture“, planejada para ser concretizada no segundo semestre. A Philips vai reter 30% do negócio e passará o controle dos negócios para a TPV, tendo a opção de vender o resto de sua participação daqui a poucos anos. Teoricamente, seria uma empresa “mais forte”, com dinheiro externo e mantendo a expertise. Mas não é esse o plano, como apontam diversas análises, em especial a da Bloomberg:

Mudar as TVs em um “joint-venture” acelera a transformação da empresa holandesa em uma década de um conglomerado bastante diversificado em uma fabricante de equipamentos de iluminação, produtos de saúde, e eletrônicos de consumo menores como escovas-de-dente elétricas e barbeadores. A Philips vendeu o seu negócio de semicondutores em 2006, saiu do ramo de celulares e vendeu o seu negócio de monitores de computador para a TPV por US$ 358 milhões em 2004.

Para deixar tudo mais claro: a marca Philips não vai desaparecer, ela apenas deixará de ser a Philips como a conhecemos. Algumas pessoas nos comentários citaram o exemplo positivo da Lenovo, que comprou o ramo de notebooks da IBM e mantiveram a qualidade. A ver.
fonte: Gizmodo


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