- Eu larguei tudo, fui de bicicleta à loja mais próxima e comprei um - diz.
Mas ele não pretendia jogar videogame com o Kinect, dispositivo que se conecta ao Xbox 360 e permite ao usuário controlar a ação na tela com o movimento do corpo. Kreylos, especialista em realidade virtual e gráficos 3D, tinha acabado de descobrir que poderia baixar um software e utilizar o aparelho no seu computador. E logo estava criando imagens holográficas que podem ser giradas na tela do computador. Um vídeo que ele postou no YouTube na semana passada foi assistido 1,3 milhão de vezes.
Kreylos faz parte de uma multidão de programadores, especialistas em robótica e amadores que estão começando a fazer o Kinect cumprir funções para as quais não foi projetado. O aparelho gera interesse por ser equipado com câmeras, sensores e software que detectam o movimento, profundidade, forma e posição do corpo humano.
As empresas respondem a esse tipo de experimentação com os seus produtos de formas diferentes - e a Microsoft deu duas respostas muito distintas desde o lançamento do Kinect, em 4 de novembro. Primeiro fez ameaças vagas sobre usar a justiça para impedir a "adulteração de produto." Mas agora está abraçando os hackers.
- Sempre que há engajamento e entusiasmo em torno de nossa tecnologia, vemos isso como uma coisa boa - disse Craig Davidson, diretor sênior para o Xbox Live da Microsoft. - É ingênuo pensar que qualquer nova tecnologia não terá pessoas brincando com ela.
A Microsoft e outras empresas deveriam ficar de olho nesse tipo de inovação vinda de fora e considerar a inclusão de alguns dos avanços criativos em produtos futuros, defende Loren Johnson, analista da Frost & Sullivan.
- Essas adaptações podem ser um grande benefício para sua própria linha de produtos - disse ele - É uma tendência inegável, que utiliza recursos mais amplos para melhorar os produtos, seja o Kinect ou qualquer outro.
A Microsoft investiu centenas de milhões de dólares no Kinect na esperança de conquistar uma audiência mais ampla de jogadores, como aqueles que se divertem com o Nintendo Wii. Relatos sobre a sofisticação técnica e o preço baixo do dispositivo se espalharam rapidamente nos círculos de tecnologia.
Construir um dispositivo com recursos do Kinect exigiria "milhares de dólares, muitos especialistas e meses de desenvolvimento", disse Limor Fried, engenheiro e fundador da Adafruit Industries, uma loja em Nova York que vende materiais para projetos experimentais de hardware.
- E você pode comprar um desses em qualquer loja de jogos por US$ 150 (nos EUA).
No primeiro dia de vendas do Kinect, a mulher de Fried e Phillip Torrone, um designer e editor sênior da revista Make, que apresenta projetos de tecnologia "faça-você-mesmo", anunciaram uma recompensa de US$ 3 mil em dinheiro para quem criasse e lançasse um software gratuito que permitisse o uso do Kinect em computadores comuns.
A Microsoft rapidamente criticou o concurso. Em entrevista à CNet News, um representante da empresa disse que "não tolera a modificação de seus produtos" e que iria "trabalhar em estreita colaboração com as autoridades policiais e grupos de segurança para manter o Kinect inviolável".
A atitude não é muito diferente da abordagem adotada pela Apple, que lançou atualizações de software para o sistema operacional do iPhone em um esforço para bloquear qualquer software não-autorizado em seus aparelhos.
Por outro lado, empresas que tiveram produtos modificados apoiaram a iniciativa. Um exemplo é a iRobot, que faz o Roomba, um pequeno aspirador-robô. Esse produto era tão popular entre os entusiastas de robótica que a empresa começou a vender o iRobot Create, uma máquina programável, sem a capacidade de limpeza.
Davidson disse que a Microsoft já não tem preocupações em relação aos hackers do Kinect, mas a vai acompanhar o caso de perto. Uma modificação que comprometa o sistema do Xbox, viole os termos de serviço da empresa ou "degrade a experiência para todos não é algo que queremos", disse ele.
Outros usos criativos do Kinect envolve a criação de ícones 3D no ar que podem ser manipuladas com movimentos da mão, com o resultado apresentado na tela do computador, e o controle de hologramas em quartos escuros . A maioria, senão todos, dos protótipos foi construída utilizando o código aberto liberado como resultado do concurso patrocinado por Fried e Torrone, que foi ganho por Hector Martin, estudante espanhol de engenharia de 20 anos de idade.
O KinectBot, criado em um fim de semana por Philipp Robbel, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, combina o Kinect com um iRobot Create. Ele usa os sensores Kinect para detectar pessoas, responder a comandos de gestos e voz e gerar mapas 3D com imagens do que o robô vê. Robbel diz que o KinectBot ofereceu um pequeno vislumbre do futuro de máquinas que poderiam ajudar na busca de sobreviventes após um desastre natural.
Nós vamos ver um crescimento exponencial no número de vídeos e testes nas próximas semanas e meses conforme mais pessoas ponham as mãos neste dispositivo
- Esta é apenas a ponta do iceberg - opina ele sobre a onda de experimentação com o Kinect -
Brincar com o Kinect pode ir além de um hobby de fim de semana. Pode ser trabalho de verdade. No final de 2007, Johnny Lee, um estudante de pós-graduação na Universidade Carnegie Mellon, estava tão vidrado com o Wii, que armou um sistema que lhe permitia acompanhar os movimentos de sua cabeça e ajustar a perspectiva da tela de acordo.
Um vídeo de demonstração da tecnologia fez sucesso no YouTube, assim como seus vídeos de outros projetos relacionados ao Wii. Em junho de 2008, Lee conseguiu um emprego na Microsoft como parte da equipe de software do Kinect. Lee diz ter ficado "muito feliz" ao ver a resposta que o Kinect teve na comunidade de programadores.
- Fico feliz por eles estarem inspirados e terem gostado da tecnologia. Acho que serão capazes de fazer coisas realmente legais com ele.
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